Em 5 de março foi
anunciada pelo Partido Socialista Cristão (PSC), a indicação do membro de sua
bancada o pastor evangélico deputado federal Marco Feliciano (SP) como
presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal (CDH). Foram
imediatas as reações de grupos pela causa dos Direitos Humanos ao nome de Marco
Feliciano, com a alegação de que o deputado era conhecido em espaços midiáticos
por declarações discriminatórias em relação a pessoas negras e a homossexuais.
O PSC se defendeu dizendo que seguiu um protocolo que lhe deu o direito de
indicar a presidência dessa comissão, um processo que estava dentro dos
trâmites da democracia tal como estabelecida no Parlamento brasileiro. Isto,
certamente, é fonte de reflexões, em especial quanto ao porquê da defesa dos
Direitos Humanos ser colocada pelos grandes partidos como "moeda de troca
barata”, como bem expôs Renato Janine Ribeiro em artigo publicado no
Observatório da Imprensa (n. 740, 2/4/2013). Soma-se a isto o fato de o
deputado indicado e o seu partido não apresentarem qualquer histórico de
envolvimento com a causa dos Direitos Humanos que os qualificassem para o
posto.
O que tem chamado a atenção neste
caso, e que é objeto desta reflexão, é a "bola de neve” que ele provocou a
partir das reações ao nome do deputado, formada por protestos públicos da parte
de diversos segmentos da sociedade civil, mais a criação de uma frente
parlamentar de oposição à eleição de Feliciano, e pelo estabelecimento de uma
guerra religiosa entre evangélicos e ativistas do movimento de lésbicas, gays,
bissexuais e transgêneros (LGBT), e entre evangélicos e não-cristãos. E esta
bola de neve é produto de fatores que se apresentam para além da CDH, e a
expõem como um elemento a mais no complexo quadro da relação entre religião e
sociedade no Brasil
Um paradigma
O caso Marco Feliciano pode ser
considerado um paradigma pelo fato de ser a primeira vez na história em que os
evangélicos se colocam como um bloco organicamente articulado, com projeto
temático definido: uma pretensa defesa da família. Com a polarização estimulada
pelas mídias entre o deputado Feliciano e ativistas homossexuais foi apagada a
discussão de origem quanto à indicação do seu nome em torno das afirmações
racistas e de seu total distanciamento da defesa dos direitos humanos.
Torna-se nítida uma articulação
política e ideológica conservadora em diferentes espaços sociais – do Congresso
Nacional às mídias – que reflete um espírito presente na sociedade brasileira,
de reação a avanços sociopolíticos, que dizem respeito não só a direitos civis
homossexuais e das mulheres, como também aos direitos de crianças e
adolescentes, às ações afirmativas (cotas, por exemplo) e da Comissão da
Verdade, e de políticas de inclusão social e cidadania. Nesta articulação a
religião passa a ser instrumentalizada, uma porta-voz.

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