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sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Pais que perderam filhos para violência falam como lidar com a dor


O militar aposentado Edson Luiz Biancão, 65 anos, o professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Rubens Silvestrini, 50 anos, e o empresário Paulo Roberto Fernandes, 54 anos, viverão uma situação comum no dia 11 de agosto. Será o primeiro Dia dos Pais sem os filhos, assassinados em 2012 em Campo Grande.

Biancão é pai de Lawrence Corrêa. O estudante foi morto estrangulado e seu corpo foi encontrado dentro do carro na Orla Morena, Vila Planalto, no dia 9 de dezembro. Silvestrini e Fernandes são pais de Breno e Leonardo, respectivamente. Os jovens, de 18 e 19 anos, eram amigos de infância e foram mortos no dia 31 de agosto com tiros na cabeça após serem sequestrados ao saírem de um bar.

Fernandes afirma que a família e os amigos têm sido fontes de consolo desde a morte de Leonardo. Diante da proximidade do primeiro Dia dos Pais sem o jovem, ele diz que nem a fé tem auxiliado. “A gente deixa de acreditar em Deus; chega a duvidar que Ele existe”, diz.

“As vezes passo o dia no trabalho e até esqueço um pouco, mas a hora que chego em casa parece que o luto se instaura”, completa.

Fernandes conta que, ao longo da vida, sua maior preocupação e esforço foi dar educação a Leonardo, o mais velho de dois homens. Saber que o filho não vai colher os frutos do esforço é difícil, relata. “Parece que tudo perde o sentido. Pareço não sentir graça na vida. Talvez dentro de alguns anos veja mais beleza”.

No quarto que pertencia ao filho, alguns aspectos já foram modificados. Conforme o empresário, um violão, um cavaquinho e um skate Longboard, objetos preferidos do estudante, são coisas que encarregam-se de trazê-lo à memória.

Assim como um vídeo gravado pelos filhos no último Dia dos Pais. Diante da equipe do G1, ele exibiu em um tablet as imagens que mostram Leonardo falando que gostaria de ser como o pai. “Parece que perdi uma parte do corpo. No íntimo parece que a vida se acabou, mas preciso dizer a meu outro filho que a vida tem sentido".

Sem chão
“A gente não vive, a gente vegeta”, diz Edson que, no dia 30 de julho,  contava o 228º dia da morte do filho único. “Não tem como mensurar a falta que ele faz. Não tem o que faça a gente esquecer”, disse, referindo também a esposa, Isabel Cristina Corrêa Neves, 47 anos.

Na casa em que eles vivem sozinhos, ele conta que por todos os cantos é possível lembrar Lawrence. Do quarto, que o pai diz manter intacto por não conseguir se desfazer das coisas do filho, ao cachorro, que tinha o hábito de esperar o estudante chegar após as aulas do curso de Publicidade no período noturno.

“A hora do almoço é a que mais sinto dor”, diz Biancão sobre a refeição que a família mais costumava fazer junta.  “Tem horas que bate o desespero”.

Segundo o militar da reserva, um dos consolos após a morte do filho é ter percebido que o estudante era muito querido. Os pais contam que sempre recebem visitas dos amigos de faculdade. “A marca dele era o sorriso. Era um bom filho e descobri depois que até conselheiro matrimonial ele foi”, recorda.

Além disso, Biancão diz acreditar que o filho cumpriu uma missão, pois vivia de forma intensa. “Ela parece que previa que a missão dele era curta. Vivia intensamente. A gente falava: para quieto um pouco”, conta.

Em 2013, uma data já provocou dor. Rubens conta que completou 50 anos em abril e passou o dia trancado em seu quarto, chorando. “Não queria ver ninguém. Esse ano ele faria uma trilha de Jipe que nosso grupo de amigos faz todos os anos. Pela primeira vez ele seria o motorista. Que vontade eu tenho de fazer isso agora?”.

No armário que fica no quarto de Breno, o professor mostra objetos que lembram o rapaz como a miniatura de uma motocicleta que era de seu pai. Coisas que possuem valor afetivo, segundo ele. Há quase um ano, o móvel que tem os objetos de estudante permanece do mesmo jeito.

No Dia dos Pais, Silvestrini diz que não pretende fazer um dia de luto. “Pode ser que eu desmorone, mas pretendo cozinhar e reunir a família”. sabe o que vai fazer. “Vou até o cemitério. Eu e ele vamos estar juntos”.


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