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domingo, 8 de setembro de 2013

Problemas nos ouvidos afetam o cérebro

Uma nova pesquisa revelou que disfunções no ouvido interno provocam mudanças neurológicas que estariam por trás deste comportamento. O estudo, conduzido em camundongos, também descobriu duas proteínas no cérebro diretamente ligadas a este processo que podem se tornar alvos de tratamentos.
O ouvido interno é composto por duas estruturas básicas: a cóclea, responsável pela audição; e o aparelho vestibular, que responde pelo equilíbrio. Ao longo dos anos, pesquisadores observaram que muitas crianças e adolescentes com desordens nestas regiões do corpo - particularmente que afetem ambas e causadas tanto por defeitos genéticos quanto por infecções e traumas - também têm problemas comportamentais, em especial relacionados à hiperatividade. Até agora, no entanto, os cientistas não tinham encontrado um ligação entre as duas condições.
- Nosso estudo fornece a primeira indicação de que debilidades sensoriais, como disfunções no ouvido interno, induzem mudanças moleculares específicas no cérebro que causam maus comportamentos que tradicionalmente eram considerados originários exclusivamente do cérebro – diz Jean M. Hébert, líder do estudo e principal autor de artigo que o descreve publicado na edição desta semana da revista “Science”.
A ideia do experimento surgiu quando Michelle W. Antoine, então estudante de doutorado do Colégio de Medicina Albert Einstein da Universidade Yeshiva, nos EUA, notou que alguns camundongos no laboratório de Hébert eram incomumente ativos, movimentando-se quase que continuamente e perseguindo seus próprios rabos em um padrão circular. Diante disso, os pesquisadores resolveram analisar os animais e verificaram que eles tinham defeitos graves em suas cócleas e aparelho vestibular, sofrendo de surdez.
- Percebemos então que estes camundongos ofereciam uma boa oportunidade para estudar a relação entre defeitos no ouvido interno e comportamento – lembra Hébert.
Os pesquisadores descobriram que os defeitos no ouvido interno dos camundongos eram provocados por uma mutação em um gene chamado Slc12a2, também presente em humanos, que media o transporte de sódio, potássio e moléculas com cloro em vários tecidos do corpo, incluindo o ouvido e o sistema nervoso central. Assim, para determinar se a mutação estava ligada ao comportamento hiperativo dos animais, os cientistas pegaram camundongos saudáveis e removeram o gene das células do ouvido interno, de outras partes do cérebro que controlam os movimentos oi de todo o sistema nervoso deles.
- Para nossa surpresa, só quando apagamos o gene do ouvido interno é que observamos um aumento da atividade locomotora dos camundongos – conta Hébert.
Segundo os cientistas, os defeitos no ouvido interno provocam um funcionamento anormal do chamado corpo estriado, região do cérebro que controla os movimentos. Exames revelaram então um aumento na quantidade de duas proteínas envolvidas na ação de neurotransmissores apenas nesta região, conhecidas como pERK e pCREB. Para saber se era a pERK a responsável pela hiperatividade, os camundongos que tiveram o gene removido receberam injeções de uma substância que inibe a proteína. Esses animais então voltaram a ter uma atividade locomotora normal. De acordo com os pesquisadores, esta descoberta abre caminho para o tratamento de crianças hiperativas devido a problemas em seus ouvidos internos.
- Nosso estudo levantou a intrigante possibilidade de que outras debilidades sensoriais não associadas ao ouvido interno também podem causar ou contribuir para o desenvolvimento de desordens motoras ou psiquiátricas que hoje são consideradas originárias apenas de problemas no cérebro – conclui Hébert. - Este é um campo que ainda não foi bem estudado.




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