Os líderes da Igreja Maranata foram denunciados novamente pelo
Ministério Público do Espírito Santo por coação de testemunhas, além de ameaça
a uma juíza e um promotor.
A denúncia foi feita a
partir de escutas telefônicas que flagraram as orquestrações para intimidar as
pessoas arroladas como testemunhas no processo que investiga o desvio de
dízimos e ofertas na Igreja Maranata.
Entre os cinco
denunciados no novo inquérito, há quatro pastores: Gedelti Gueiros, fundador da
igreja, Amadeu Loureiro Lopes, Carlos Itamar Coelho Pimenta e Elson Pedro dos
Reis, além do bacharel em Direito Mauro Teixeira da Rosa, que é membro. Os três
primeiros já estão detidos pelos crimes de formação de quadrilha, estelionato,
apropriação indébita e duplicata simulada, conhecido como nota fria.
Nas gravações, há
detalhes da estratégia usada pelos acusados para desqualificar as denúncias,
burlar a proibição da Justiça de encontros entre os acusados, direcionar as
acusações para a igreja e ocultação de provas, entre outras.
Uma conversa entre a
assessora de imprensa da Maranata, Beth Rodrigues, e o pastor Marco Picone fala
sobre como negar a acusação de enriquecimento ilícito:
-Nós
temos que conseguir um argumento assim factível, acreditável da vida de
Gedelti, da movimentação financeira dele entre 2009 e 2011, que segundo a
matéria foi quase oito vezes maior que o valor declarado ao Imposto de Renda –
diz Picone.
-Porque ele pode dizer: “Minha sogra morreu, e eu ganhei uma fazenda, enfim, deve ter uma razão” – responde Beth
-Porque ele pode dizer: “Minha sogra morreu, e eu ganhei uma fazenda, enfim, deve ter uma razão” – responde Beth
A respeito Igreja
Maranata, os mesmos interlocutores dialogam com o pastor Daniel Moreira e dizem
achar melhor que as acusações sejam contra a denominação, ao invés de seu
fundador, pastor Gedelti Gueiros.
–Que o ataque à igreja, enquanto
instituição é melhor para eles, do que o enfrentamento frontal a Gedelti [...]
Que a igreja tem mais pernas para segurar este embate que a figura de Gedelti
[...] A igreja tem base muito forte, o tempo pode recuperar a imagem, já
Gedelti … – diz um dos três, segundo o G1, que não informou o autor da frase.
Em outra gravação, os
pastores Marco Picone e Daniel Moreira voltaram a entrar em contato para traçar
estratégias para o depoimento de outras testemunhas:
–Companheiro, Sérgio informou que dona
Vera, esposa de Arlínio (pastor), vai depor amanhã [...] Terão que pedir para a
Bárbara (advogada) acompanhar, e depois vão ter de colocar o marido dela
(Arlínio) para desmentir tudo o que a esposa mentirosa disser – combinam.
Um trecho curto de uma
conversa entre o pastor Gedelti Gueiros e outros dois membros da igreja revela
que os líderes da Maranata fizeram contatos com terceiros para contra-atacar as
acusações: “Ações já estão sendo agilizadas em Brasília”, diz um dos envolvidos
no diálogo.
A ocultação de provas
foi tema de uma nova conversa entre os pastores Daniel Moreira, Marco Picone e
a assessora Beth Rodrigues:
–Se teria como melhorar a defesa de
Gedelti, pois está muito levinho [...], pois além do parecer técnico do
Espírito Santo, já encomendaram outro do Rio de Janeiro [...] é esconder prova
pro momento certo – tramam.
Daniel Moreira revela,
num diálogo com uma pessoa não identificada, que há um dossiê sendo preparado
pelos acusados contra pessoas que conduzem a investigação:
–Companheiro,
preciso daquelas pastas sobre os nossos acusadores, ok?
–Ok. Estamos montando mais um jogo.
–Ok. Estamos montando mais um jogo.
Ações de retaliação à
imprensa também foram planejadas pelos pastores Daniel Moreira e Marco Picone:
–Ontem,
após uma reunião de oração, “nosso amigo” comentou com o Sérgio sobre uma ação
de reparação de danos, e o Sérgio deu também uma ideia [...] Preparar um
material e colocar à disposição de quem quiser para entrar em juizados especiais
com ações contra o jornal – diz Daniel.
– [...] Vão entrar com esse grupo de ações [...] Eu vou aprovar e depois ele entra, tudo dentro da estratégia [...] Dará um trabalho tremendo ao jornal, pois terão que viajar todo o Brasil para ver isso.
–Foi o Varella que deu essa ideia do juizado especial – conclui Daniel.
– [...] Vão entrar com esse grupo de ações [...] Eu vou aprovar e depois ele entra, tudo dentro da estratégia [...] Dará um trabalho tremendo ao jornal, pois terão que viajar todo o Brasil para ver isso.
–Foi o Varella que deu essa ideia do juizado especial – conclui Daniel.
Irregularidades foram
assunto de uma conversa gravada entre Daniel Moreira e Beth Rodrigues:
–O que eu quero dizer é que como uma
instituição (igreja), ela tem que negar que as pessoas enriqueçam lá dentro
[...] Quem quer que seja pode ter cometido uma, duas, ou três irregularidades,
mas o processo de enriquecimento ilícito lá dentro é uma coisa que a gente tem
que negar peremptoriamente (decisivamente), até que tenha havido, a gente tem que
negar, né.
Os pastores Daniel
Moreira, João Batista e o advogado Gustavo Varella planejaram uma forma de
desacreditar o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado
(Gaeco), órgão do Ministério Público:
–Acha
que está na hora deles baterem, de dar um nocaute – diz um dos pastores.
–Dar uma cruzada de direita no focinho do Gaeco e do Ministério Público, tratar como leviano, irresponsável – complementa o advogado Varella.
–Dar uma cruzada de direita no focinho do Gaeco e do Ministério Público, tratar como leviano, irresponsável – complementa o advogado Varella.
O advogado Gustavo
Varella e a assessora de imprensa Beth Rodrigues optaram por não fazer
declarações ao G1 a respeito da citação de seus nomes nas escutas telefônicas
que foram usadas na nova ação do MP contra os líderes da Maranata.
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